The Hanged Man (XII) é a única carta do tarô que se baseia visivelmente numa figura mitológica. É Odin, o Deus escandinavo que esteve dependurado na Árvore do Mundo, durante nove dias, para obter a sabedoria das runas. De todos os personagens, que nos mitos das diferentes culturas personificam a busca do conhecimento, somente Odin levou a cabo sua busca sem mover-se, pelo menos no sentido físico. A verdadeira busca é interna, não externa. No início pode parecer confuso, mas apenas porque esta é a carta do tarô do paradoxo. Os mistérios dela estão dentre os mais raros. É como se os seus ensinamentos não pudessem ser conhecidos através do mundo físico, apenas no nosso próprio mundo interior.

 

As lições são até fáceis de se entender, mas difíceis de aceitar quando se aplicam a si mesmo. A resposta mais evidente para um problema pode ser a mais simples, mas raramente é a melhor. Admitir que tem medo lhe dará a força para conquistar este medo. Quando se abandona o desejo de controle, tudo começa a funcionar como deve. Num mundo em que deve correr o mais rápido que possa para permanecer no seu lugar, esta carta diz que pare de lutar e poderá avançar. Dizer isso a outras pessoas é fácil, trate de fazê-lo você mesmo e verá que resulta quase no impossível.

 

Por que é assim? Dizer a outros que se tem de pendurar-se em uma árvore é simples. Ninguém quer pendurar-se a si mesmo. Ainda que na sua posição incômoda, com frequência é representado sorrindo e com um halo dourado em torno da cabeça para mostrar a inspiração e o poder divino. É totalmente vulnerável ao mundo e a nossa vulnerabilidade encontrou a força. O sacrifício  que fez foi sua liberdade e seu poder no mundo físico; em troca, se lhe outorgou liberdade e poder reais no plano espiritual. Abandonou suas antigas formas de pesquisa e agora é o afortunado possuidor de novos olhos. Mas claro que nem todos os sacrifícios têm que ser como este; ao decidir comer com um amigo em vez de comer só, sacrifica sua solidão. Se escolher praticar um esporte de forma profissional, significa que não pode praticar outro com a mesma frequência. Ao optar por um trabalho, sacrifica qualquer desejo de outro, ao menos no momento. O único traço comum a todos os sacrifícios é que se renuncia a algo que tem em troca de algo que quer, de igual ou maior valor. Sendo a carta do paradoxo, ela também o exorta para ver as coisas de uma maneira nova e diferente. Se sua mente lhe grita que faça algo, não fazer nada poderia ser o melhor. Se algo tem importância emocional para você, mas sem nenhum propósito, talvez seja melhor pensar antes de executá-lo. Não trate de forçar as coisas para que algo aconteça enquanto esta carta estiver por perto. Ao procurar força-las estará assegurando que nunca aconteçam. Relaxe e deixe que as coisas aconteçam, em vez de tratar de interferir. Em lugar de lutar contra a corrente, deixe que o leve com ela.

 

Quando o Enforcado aparecer, saiba que está iminente uma sabedoria e uma felicidade maior, mas apenas se estiver preparado para sacrificar algo em troca. Às vezes, se lhe privará de algo físico, mas, na maioria dos casos, é uma perspectiva ou um ponto de vista que deve ser deixado para trás. Pode ser uma fantasia que nunca poderá ser realizada, ou estar apaixonado por alguém que está fora do seu alcance. Inevitavelmente sacrificar algo que valoriza o levará sempre a algo mais valioso ainda. Ao despertar de um sonho inatingível, encontrará algo muito mais ao seu alcance. Esquecer um amor lhe permitirá abrir seu coração a alguém mais importante e valioso.

 

Texto retirado do livro “O Tarô Universal de Waite – Edith Waite (Editora ISIS)“