Uma discussão cada vez mais presente, até por conta da pandemia, é a questão da comercialização, em escala industrial, de animais e as consequências atreladas a isso. O impacto ambiental deveria nos fazer refletir mais sobre o assunto e suas reverberações no planeta Terra, que é também um ser orgânico demonstrando sinais claros que se não mudarmos de rumo agora, seremos mortos e extintos com as mudanças climáticas. O surgimento do Sars Cov 2 é a prova viva que essa relação não é mais benéfica para nenhum ser vivo. Não que o surgimento do vírus esteja diretamente atrelado somente à essa questão. Muita coisa estranha está acontecendo, e todas relacionadas.

A indústria da carne maquia o bife para não lembrarmos sua origem, com uma bela embalagem e adicionando artifícios para melhorar a aparência. O mesmo poderia ser dito, por exemplo, sobre os filtros virtuais nas redes sociais, deixando nossa pele, olhos e cabelos artificiais, buscando uma aparência eternamente jovial que não condiz com a verdade. A realidade é dura, eu sei. Crescemos com uma boa dose de romantismo para enfrentar a dureza da vida. Arte é uma necessidade disso, inerente ao ser humano, para lidar com a realidade que não nos contempla por inteiro.

Não há problema algum nisso. Somos seres criativos e chegamos até aqui por causa dessa habilidade criativa. O problema é quando nosso atual sistema econômico mete o dedo, maquiando tudo aquilo que considera produto, visando a venda e o lucro infinito, escondendo os efeitos colaterais que isso gera no globo, que é finito.

Nossa autoimagem está deturpada, doenças mentais como ansiedade e depressão só crescem nessa geração por causa – não só – do mau uso das redes sociais; e o cataclisma climático está logo ali, virando a esquina. Foram tantos anos de extorsão sem planejamento, que talvez seja tarde demais para engatarmos a ré e repensarmos um novo meio de vida, consumo e sistema econômico mais humanizado.

Essa série é um manifesto amadurecido durante meu período de isolamento em 2020 – quando a morte e a fragilidade humana entraram em evidência. Aqui foram feitas pinturas abstratas em cima de partes reais de animais, além de outras formas orgânicas já sem vida, como penas, folhas e flores, com o objetivo de exaltar e maquiar a morte, chegando no que poderia ser chamado de “pinturas fotográficas“.

As vezes é quase impossível identificar o que foi pintado, fazendo uma alusão e uma crítica à maneira que consumimos em nossas vidas, sem saber exatamente o que é aquilo, pra que serve aquilo. No fim, tudo ao nosso redor não seria construção para que nós, seres humanos, vivêssemos confortáveis num mundo onde obviamente somos os mais frágeis? Bom, toda essa grande evolução e construção está nos levando à extinção.