Aqui, bastariam apenas onomatopeias aleatórias. Se é preciso explicar algo mais verbal, então o diálogo do movimento não estará na sua função total. No entanto, penso ser importante descrever, pelo próprio entendimento e experiência, a importância de tudo isso.

 

Pessoas movendo-se ao improviso, sendo estimuladas através do contato – esse que não precisa ser necessariamente físico, pode acontecer através de todos os sentidos, mas precisa ser percebido e transmutado em movimento, gerando uma comunicação com o outro.

 

Contato Improvisação (CI) é uma vertente da dança contemporânea, uma dança que trabalha os movimentos não coreografados, providos, principalmente, do contato físico com o(s) outro(s). Na grande maioria das vezes, dança-se sem música, mas nem por isso o silêncio permeia o local, já que soltar suspiros, sons, risadas e até gritos durante o ato é permitido – e necessário. A dança pode ser solo, em duplas, trios, grupos e até mesmo com todos que estão reunidos ali, mas nada de caso pensado, apenas acontece. O chão tem um papel importante, podendo, uma dança inteira, acontecer lá em baixo, com um rolando por cima do outro. De repente ficam em pé, saem voando pelos ombros, voltam a cair no chão e continuam numa fluidez improvisada.

 

Com a idade nosso corpo começa a seguir padrões de comportamento e movimento, além de perdemos quase que completamente o contato físico entre nós, salve algumas interações sociais, mas que também são regadas de moldes e tabus. O mundo também exige uma grande inteligência intelectual, como se os seres humanos só existissem da cabeça para cima, quando na verdade existe um universo inteiro funcionando da cabeça para baixo; um o corpo carente com seus movimentos latentes.

 

Com a prática de improvisação pelo contato, podemos treinar a verdadeira relação, abdicando de desejos egóicos, derrubando vários padrões enraizados, ter uma melhor fluidez na vida e ajudar a controlar a racionalidade excessiva. CI é desapegar dos preconceitos do que é tocar e ser tocado, é praticar um diálogo que está cada vez mais sendo esquecido, ainda mais num mundo onde a impessoalidade vem tomando espaço por mecanismos virtuais.

 

A pele, o maior órgão do corpo humano, é uma via direta às emoções, com seus prazeres e dores, a ponte entre o interno e o externo, e esse direito de sentir nos foi reprimido de tantas maneiras. A dança e o movimento são inerentes ao ser humano, só precisamos resgatar isso.

 

Durante todo o ano de 2019 foram registradas diversas JAMs – encontro de pessoas dispostas a praticar e experimentar Contato Improvisação – as fotografias buscam manter uma característica atemporal, por isso a escolha de registrar tudo em filme 35mm preto e branco. Também acaba sendo a linguagem fotográfica que mais se aproxima, assim acredito, da prática do improviso, já que boa parte do processo analógico é intuitivo e cheio de movimento.