“Toda fotografia tem um antes e um depois que inevitavelmente só o fotógrafo conhece: é através desse pensamento que tento contar histórias, assim é possível que o observador passe uma noite inteira na Rua Augusta sem nunca precisar, fisicamente, estar lá.”

A principal informação que se precisa obter sobre a Rua Augusta é que ela é dividida pela Avenida Paulista. De um lado fica o bairro dos Jardins e do outro o lado Centro: a Baixo Augusta.

 

A Baixa Augusta é onde as histórias acontecem. Onde é o ROLÊ, a balada, o puteiro, onde é o esconderijo, o esquenta, a procura, a perda, o teto, a esperança, a casa de alguns e meu quintal.

 

O projeto, que foi iniciado em Janeiro de 2017, foca-se principalmente nas atividades da vida noturna da Rua Augusta e arredores, berço da bohemia e prostituição da cidade de São Paulo; e point de boa parte das tribos existentes na cidade. Os acontecimentos não acabam nunca. Cada um na sua vida, no seu “rolê”, sem se importar muito com o que acontece em volta, focados apenas em suas fugas da vida diurna.

 

Quando o sol se esconde, a Rua Augusta transforma suas calçadas de lojas e serviços em um ninho de bares e baladas que saciam seus usuários. Mas, apesar de todas as conversas e risadas embriagadas que explodem à luz da lua, ao olharmos com atenção para todo aquele mosaico de gente, é possível se deixar sensibilizar por um grupo de pessoas que estão lá sempre para sobreviver. Dessa maneira, esse é um projeto sobre pessoas e conexões. Acontecimentos e histórias. Sobre comportamentos, momentos e buscas. Sobre, enxergar além.

 

Para conscientizar um pouco mais sobre o trabalho e sobre todos esses contrastes ali presentes, comecei a colar lambes pelas paredes do bairro. Com o tempo, percebi a ironia que os lambes comunicavam com a interferência da própria Rua Augusta, sendo rasgados e pichados. Essa intervenção criou uma segunda etapa do projeto, que é a de mostrar, em dípticos e trípticos, as diversas formas que uma mesma foto obteve, do momento decisivo, clicado pelo fotógrafo, às mãos do acaso da própria bagunça da Rua Augusta.

 

Hoje, ano 2021, o projeto continua em marcha lenta, com a conta do Instagram praticamente esquecida e raras saídas fotográficas, mas com a chegada da pandemia, no inicio de 2020, as edições internas voltaram, além de curtas saídas fotográficas que acontecem esporadicamente para registrar a rua no período de pandemia.